segunda-feira, 20 de março de 2017

Os nossos Professores Animais

Os nossos antepassados reverenciavam cada aspecto do mundo natural e consideravam cada parte deste mundo capaz de ser um aliado, um guia e um professor. O Druida de hoje é capaz de obter inspiração, direcção e assistência de cada reino do mundo natural, mas nos tempos antigos talvez isso fosse mais simples e menos incomum – havia menos “coisas” entre nós e o mundo da Natureza e a mundovisão predominante considerava
que cada parte dela estava imbuída de vida espiritual e significado. Os animais, em particular, eram reverenciados pelas suas qualidades e eram vistos como sagrados à Deusa ou aos deuses.

Diz-se que um certo número de tribos ou clãs descenderam de animais, tais como o “povo dos gatos” na Escócia e as “tribos do lobo”, assim como os “cabeças de cão”, na Irlanda. Também se diz que algumas famílias tinham antepassados animais. A foca, por exemplo, era o antepassado original de pelo menos seis famílias na Escócia e na Irlanda. A maior parte das tribos tinha os seus animais totémicos, claramente demonstrados nos seus nomes, como os Caerini e os Lugi em Sutherland (“Povo das Ovelhas” e “Povo dos Corvos”), os Epidii de Kintyre (“Povo dos Cavalos”), os Tochrad (“Povo dos Javalis”), os Taurisci (“Povo dos Touros”) e os Brannovices (“Povo dos Corvos”).

As famílias também tinham animais totémicos, visíveis nos seus nomes, nos seus brasões ou nas suas tradições familiares. Todos conhecemos sobrenomes ingleses que são claramente nomes de animais, tal como Fox (“Raposa”), e a maior parte de nós conhece o animal que está relacionado com os nomes de origem clássica, tal
como Philip, oriundo do grego e que significa “amante de cavalos”. Porém, muitos nomes em gaélico vêm directamente do reino animal e tentámos mencionar tantos quanto possível no Capítulo Dois d'O Oráculo Animal dos Druidas. Aprender que nomes como “Filho de Raposa” ou “Pequeno Lobo” eram comuns na tradição nativa britânica faz-nos sentir mais próximos dos nossos irmãos e irmãs da tradição nativa americana.

Os nossos antepassados adoravam e respeitavam os animais de tal forma que escolhiam ser enterrados com eles, para os ter como guias e companheiros no Outro Mundo. Usavam os seus ossos e os seus dentes como amuletos. Usavam as suas peles para se vestirem e fazerem os seus leitos, para fazerem os seus escudos, tambores e gaitas-de-foles. Aceitavam as suas peles, os chifres, os cascos e a carne como dádivas e faziam uso de todas as partes dos animais – até mesmo os excrementos eram por vezes utilizados para efeitos de cura. Quando caçavam, pediam permissão à Deusa, antes de se aventurarem a tirar a vida de qualquer criatura. A caça em si era considerada sagrada e tinha uma série de tabus para proteger tanto o caçador como a caça.

O elo existente entre os nossos antepassados e os animais era tão extraordinariamente rico que estes se relacionavam não só com os animais selvagens, mas também com os guardiães, guias neste mundo e no próximo, curandeiros, amigos e professores. Não é de espantar que eles os considerassem sagrados e companheiros dos deuses. Apenas nós, uma humanidade recente e bidimensional, é que vemos os animais como sendo meramente criaturas “menores”, de inteligência inferior e de pouco valor, para além do facto de servirem de alimento.

In "Oráculo animal dos druidas"

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