segunda-feira, 20 de março de 2017

Os animais no druidismo

Enraizado no Tempo

A reverência pelos animais e a consciência de que eles são professores e guias é tão antiga como a própria humanidade. As grutas de Drachenloch, na Suíça, exibem altares com cerca de 70.000 anos dedicados ao Urso. Nas grutas de Lascaux, em França, as extraordinárias pinturas de animais e a estátua cerimonial do corpo de um urso têm mais de 19.000 anos. Os animais eram claramente o centro de uma prática religiosa desde os primórdios do tempo. Na Grã-Bretanha, num povoado mesolítico em Yorkshire, encontraram-se hastes de veado com cerca de 10.000 anos que foram adaptadas para ser ritualisticamente usadas na cabeça.

Usar peles de animais, cabeças e penas era uma forma de identificação com os mesmos, de ser esses animais por algum tempo, de partilhar dos seus poderes e de receber a inspiração divina. Na Grã-Bretanha, os nativos ainda faziam isto no séc. VII d.C. – sendo que Santo Agostinho condenou este “hábito extremamente obsceno de se vestirem como veados”. Na Irlanda, o Bardo usava o tugen – uma capa de penas feita com “peles de pássaros, brancas e multicoloridas... da cintura para baixo e com pescoços de patos bravos e cristas da cintura até ao pescoço”.

Para além de se vestirem como animais, os nossos antepassados sacrificavam-nos e enterravam-nos ritualisticamente. Qualquer relutância que se possa ter inicialmente face a este comportamento deve ser temperada com a consciência de que hoje em dia milhões de animais criados industrialmente são sacrificados diariamente sem qualquer acompanhamento ou contexto espiritual – ao passo que os sacrifícios e rituais dos nossos antepassados envolviam um pequeno número de criaturas e uma consciência profunda da dádiva que o animal estava a conceder ao ser sacrificado. Parece que os animais eram enterrados cerimonialmente como uma acção de graças nos silos de cereais subterrâneos quando estes deixavam de ser úteis e eram selados. É possível que se tenham feito rituais semelhantes com os animais que acompanhavam os mortos ou que eram enterrados em altares ou santuários.

A importância dos animais na vida religiosa dos nossos antepassados também pode ser vista no facto de quatro dos oito festivais druídicos do ano, conhecidos como Festivais de Fogo, estarem particularmente ligados à vida campestre da pastorícia e e da agricultura, e sabe-se que têm sido celebrados durante pelo menos os últimos 7.000 anos. O Imbolc, no dia 1 de Fevereiro, é o tempo do nascimento dos cordeiros, dos vitelos e das primeiras sementeiras. O Beltane, no dia 1 de Maio, assinala o início do Verão, quando os rebanhos são levados para as pastagens altas. O Lughnasadh, no dia 1 de Agosto, marca o início das colheitas e o Samhuinn, no dia 1 de Novembro, assinala o princípio do Inverno, quando os animais são trazidos até aos vales e se fazem as matanças para a carne que deve ser conservada.

In "Oráculo animal dos druidas"

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